RSS2.0

domingo, 14 de agosto de 2011

Sobre Game of Thrones


Antes de qualquer coisa, gostaria de avisar que esse post é 100% SPOILER-FREE. Ou seja, não tenha medo, não vou contar nada do enredo e da trama.


Como muitos de vocês já devem ter percebido, Game of Thrones é o Hype da vez, o seriado lançado pela HBO alavancou as vendas de livros pelo mundo todo e George R. R. Martin se torna um homem mais rico enquanto você lê esse texto pois uns tantos livros estão sendo adquiridos neste instante. A história tem seus méritos, e também já causou polêmica agora que está evidência.


As histórias de fantasia receberam um up quando a série de Harry Potter foi lançada e quando O Senhor dos Anéis teve sua trilogia lançada para o cinema, desde então muitos autores novos quiseram pegar embalo no sucesso que o gênero estava fazendo. E com certeza algumas pessoas estão achando que George Martin apenas aproveitou também essa oportunidade e fez seus livros, mas aí que se enganam porque é um projeto que começou a ser escrito em 1991 e foi publicado primeiramente em 1996 (segundo a wikipédia). Pois é, o caso é que os livros não fizeram tanto sucesso antes, mas nada que uma série televisiva não possa fazer por seu produto.


Veja bem, não tenho nada contra a série e nem o livro, na verdade até recomendo a história (seja na TV ou no papel) para você que lê este blog, mas tenho algumas críticas para fazer acerca da polêmica que foi criada a respeito das crônicas de gelo e fogo. Tudo começa há não muito tempo atrás quando este artigo foi publicado.


Vamos ser sinceros, um artigo desses e com um título tão radical é criado apenas para colocar lenha na fogueira, nos fóruns chama-se um usuário que se comporta dessa forma de Troll pois ele passa o tempo todo levantando questões apenas para tentar jogar os usuários uns contra os outros, criar flames (que seriam discussões acaloradas) e propagar o caos, quando muitas vezes nem tem argumentos, só querem agitar as águas até se tornarem turbulentas. Vamos analisar as 10 razões e o que podemos extrair. Primeiro vejamos logo a lista, depois abordaremos os tópicos:


  1. Os personagens transam, escarram, defecam e ficam de ressaca;
  2. A linha entre bem e mal é muito mais tênue – se é que existe;
  3. Martin não abusa das descrições como Tolkien;
  4. Martin não tem nenhum princípio;
  5. O autor de Crônicas não se ofende se você encontrar alegorias nos livros;
  6. Ao terminar os capítulos de Crônicas o leitor está sem ar;
  7. Há mais reviravoltas na trama em um livro de Martin do que em todas as obras do Tolkien juntas;
  8. O leitor troca de olhos a cada capítulo;
  9. Há personagens para todos os gostos;
  10. As Crônicas de Gelo e Fogo duram mais.

Como vocês já podem ver, algumas dessas razões são absurdas só de ler o título, mas vamos analisar com calma.



Os personagens transam, escarram, defecam e ficam de ressaca: aqui nossa ilustre autora do artigo critica o puritanismo utilizado na história de Tolkien e chega a mencionar Arwen como elfa recatada, enquanto que em GoT até o personagem mais sério se embebeda, transa, entre outros comportamentos. Enfim, são realidades diferentes, épocas de escrita diferentes, e definitivamente encher a história de Tolkien de sexo e bebedeira ou urinadas atrás de árvores não ia fazer dela melhor, o enredo já é muito bom por si só sem esses elementos. É como cobrar uma história adulta, com muita devassidão em Harry Potter, é possível, mas o foco da história é outro. A falta de "momentos adultos" por assim dizer, não faz a história de Tolkien brilhar menos.



A linha entre bem e mal é muito mais tênue – se é que existe: aqui de novo a autora volta ao estilo de escrita. Ela tem certa razão na afirmativa, pois em GoT é difícil dizer quem está tramando e quem é o vilão da vez, enquanto que em SdA os vilões estão bem definidos entre Orcs, Trolls, Nazgul, Espectros, Grima, Saruman e Sauron. Não temos surpresas quanto a quem não está do lado dos mocinhos, mas de novo eu afirmo que isso não torna a história de Tolkien pior. O Senhor dos Anéis é uma clássica história de bem contra o mal, com os lados já bem definidos nessa guerra por causa de todo o préludio que foi criado para a guerra do anel. Se em GoT temos punhal nas costas do protagonista de quem menos se espera, e planos de onde menos se imagina, GoT se torna uma história de suspense bacana, mas o intuito de SdA é diferente e o fato de não tornar tudo um suspense e criar traições a cada 5 páginas, não faz da história pior, só faz dela uma história que não aborda esse aspecto, isso é opção do escritor.


Martin não abusa das descrições como Tolkien: todos que leram Senhor dos Anéis sabem que esta afirmação é verdadeira, outras obras de Tolkien como O Hobbit e O Silmarillion são muito menos descritivas do que SdA, na qual Tolkien descreve tudo em seus mínimos detalhes, mas é preciso ver que são épocas diferentes. George é mais contemporâneo, escreveu os livros já nos anos 90, Tolkien escreveu os livros durante a segunda guerra ou foi pouco depois dela. Você cobrar que Machado de Assis tivesse usado as gírias e termos de hoje é absurdo. Concordo que a leitura de SdA pode ser cansativa, mas com um pouco de disposição você terá lido uma das maiores histórias já escritas, lembrando ainda que Tolkien optou por ser bastante descritivo porque ele criou todo um mundo que não existia, e acredito sua intenção era fazer as pessoas enxergarem bem como era a Terra Média.


Martin não tem nenhum princípio: aqui percebemos que a autora encheu linguiça, porque essa razão é praticamente igual a segunda. Ela diz que Martin coloca na trama: traição, incesto, prostituição, roubo, estupro, violência, crueldade, infanticídio, eutanásia, aborto. Ela diz que isso torna GoT mais verossímil do que SdA. Eu digo novamente que o foco de Tolkien, era outro, ele não necessariamente deveria encher sua história de devassidão para torná-la melhor, e a perversidade pode se apresentar de formas diferentes, principalmente num mundo de fantasia com raças diferentes e situações diferentes das que existem em nosso mundo. Na verdade, acho que ninguém queria ver orcs estuprando hobbits prisioneiros, é exatamente o tipo de coisa que não faz falta em Senhor dos Anéis e dificilmente sair colocando elfos violentados ou orcs violentando, ou o que quer que fosse nesse sentido ia melhorar Senhor dos Anéis. Não me entenda mal, não estou dizendo que a história é ruim por não ter esses elementos, só quero dizer que ela não ia melhorar se os tivesse, ia passar a ser uma história banal e não épica.


O autor de Crônicas não se ofende se você encontrar alegorias nos livros: na boa, supondo que Tolkien tenha dito que se ofenda quando dizem ver alegorias em suas histórias (apenas supondo, pois não sabemos se ele disse isso mesmo, a fonte não é verificada) em que isso piora sua história? Exatamente caro leitor, não piora em nada. Isso é uma opinião pessoal do autor, não vai tornar a história muito melhor (como diz o titulo do artigo) do que a outra. É como se Stephenie Meyer dissesse que não gosta de seriados americanos e as pessoas achassem os livros dela piores ou melhores por causa disso. Não tem nada a ver com a história, a saga crepúsculo é ruim e vai continuar sendo, independente da opinião que a autora tiver sobre brownies ou mesmo sobre o ursinho poof.


Cute.

Ao terminar os capítulos de Crônicas o leitor está sem ar: mais uma razão que não é razão. Em primeiro lugar, Senhor dos Anéis também tem finais de capítulo que deixam o leitor de batimento acelerado e pronto a emendar a leitura do próximo capítulo no final do anterior. Ela diz que o ritmo se torna lento em algumas partes e que é mais fácil fazer uma pausa ao ler Senhor dos Anéis. Eu digo que a história de SdA não precisa passar o tempo inteiro em momentos de tensão ou em guerra, mesmo quando se joga RPG, tem momentos de descanso, de planejamento, etc... Numa história de fantasia tal como SdA procede o mesmo. Quanto a essa história de pausas, isso depende muito da disposição do leitor, além do livro. Se você chegou do trabalho, ou está com sono, fome, etc... é bem possível que queira fazer pausa, tem muito mais coisa envolvida.


Bonita, mas não é o que se pode chamar de rainha.

Há mais reviravoltas na trama em um livro de Martin do que em todas as obras do Tolkien juntas: certamente GoT tem mais reviravoltas, na verdade por causa da história de não se saber quem é mocinho e quem é vilão em cada momento, isso acontece o tempo todo. GoT é bem imprevisível e isso é verdade, então a autora do citado artigo diz que SdA tem um final bem previsível com os mocinhos vencendo no final. Embora isso não seja segredo para ninguém, assim como em Star Wars também não o era, os meios pelo qual se chega ao final não são exatamente previsíveis, na verdade muita coisa que nem se imagina acontece com os personagens, mesmo sendo eles bem definidos como do bem ou do mal. Na verdade acho injusta a acusação de SdA ser previsível, o desenrolar da história é o que se pode chamar de aleatório com hobbits, magos e outros fazendo o que não se espera deles ou em situações que não se imagina que fossem se colocar.


O leitor troca de olhos a cada capítulo: Nem vou me estender nesse tópico, praticamente todo livro que faz uso de narrativa tem isso, tirando livros que são contados em primeira pessoa tais como Percy Jackson. Senhor dos Anéis com certeza também tem suas trocas de ponto vista, o único ponto de vista que não é abordado diretamente acho que é apenas do próprio Sauron.


Eis aí um cara com carisma.

Há personagens para todos os gostos: e em SdA também os há. Ela ainda diz que Martin criou personalidades distintas e complexas, como se os personagens de Tolkien fossem tocos de madeira sem nenhuma motivação. Me recuso a seguir adiante com qualquer palavra que seja sobre esse tópico, porque os personagens de Tolkien obviamente tem sua profundidade psicológica, é algo que até a pessoa mais inculta pode perceber.


As Crônicas de Gelo e Fogo duram mais: e até agora eu fico sem entender porque isso torna uma história "muito melhor" do que a outra. Na verdade tenho um contra e não um pró sobre esse tópico. Histórias muito longas tendem a perder o foco e se tornarem tediosas, encheção de linguiça, ou ainda desvirtuar a história inteira. Exemplos disso são Lost, Naruto, Bleach: histórias que se alongaram demais e acabaram fugindo a proposta que tinham no início. Tolkien tinha seu objetivo bem definido, e escreveu sobre ele, porque deveria ficar arranjando subquests, histórias laterais para estender a história? Ela é boa como foi escrita, não acho que ele deveria ter enrolado, se queria escrever o passado, podia abordá-lo em outros livros como foi feito através do Hobbit e do Silmarillion bem como outros, infelizmente ele não viveu para dar continuidade a Quarta Era da Terra Média, e tivemos de ficar apenas com a Terceira Era tendo seu fim na guerra do anel.


Na verdade, desde o princípio as histórias não deveriam ser comparadas, pois é como comparar uma banana e uma laranja, ou como comparar Lady Gaga e Roberto Carlos e dizer que a primeira é melhor porque é mais moderna. Cada um serviu ao seu propósito e são de tempos diferentes, assim como os livros citados no artigo. Tal comparação é absurda. O máximo que se pode dizer, é que realmente Game of Thrones é mais fácil de ler, porque está numa linguagem mais atual e menos descritiva do que O Senhor dos Anéis. Ou seja, no máximo poderíamos aproveitar uma dessas razões (a terceira) mas apenas para mencionar a facilidade em relação ao outro, uma história não é melhor do que a outra, e um leitor que deixa de conhecer o livro de SdA por preguiça, está deixando de conhecer uma das histórias épicas mais famosas e clássicas, e que abriu portas para muitas outras histórias de fantasia e foi inspiração para diversos RPGs no mundo todo. Já as outras 9 razões são todas absurdas como pudemos observar.


Veja bem caro leitor, novamente quero ressaltar que não estou dizendo que GoT é ruim, de baixa qualidade ou que você não deva ler. Na verdade eu recomendo muito Game of Thrones, garanto que vai despertar seu interesse, é cheio de sexo, falta de moral, intrigas políticas, reviravoltas e tudo mais que possa tornar a história interessante, meu objetivo aqui é dizer que uma história não é melhor do que a outra, porque elas não podem ser comparadas e também mesmo que pudessem, as razões são absurdas.


Game of Thrones tem 5 livros publicados sendo o último A Dance with Dragons com 1040 páginas lançado em julho deste ano. Destes 5 apenas 3 foram traduzidos até agora para o português e a previsão é que o autor escreva 7 livros para contar toda a saga de Westeros, isso se ele não mudar de idéia para mais ou para menos. Recomendo que você veja também o seriado, são 10 episódios, produzido pela HBO, está com bastante qualidade, fiel a medida do possível, com uma boa adaptação. É impossível não se identificar com alguma das famílias, ou se não for com uma das famílias pelo menos com um dos personagens.


O que eu estava dizendo mesmo?

Desde já, também deixo a recomendação de leitura: O Hobbit, O Senhor dos Anéis (trilogia), O Silmarillion, e se quiser mais da terra média ainda tem Contos Inacabados e Os Filhos de Húrin. Também assista a trilogia para cinema do Senhor dos Anéis, caso ainda não o tenha feito, seu herege e tem os filmes do Hobbit previstos para sair em 2012 e 2013. Sim, O Hobbit foi dividido em dois filmes, mas enfim, o que se há de fazer. Qualquer reclamação ou sugestão favor deixar comentário. Só não diz "Mãe, tô na globo!" porque aqui definitivamente não é a globo.


PS.: Não tem como não gostar de Arya.

PPS.:Não tem como não gostar da Daenerys.


Adicionalmente para quem já curte a história e o bom andamento de GoT veja estes links, um é informativo e o outro humorístico:

- Game of Thrones Infográfico

- Game of Thrones RPG (Vídeo/Humor)

Related Posts with Thumbnails